Todos na escuta!
Vai começar a mais nova fase de buscas
por sinais de vida inteligente no universo. O Instituto de Busca por
Inteligência Extraterrestre (SETI, na sigla em inglês) anunciou esta
semana que deverá retomar as buscas por sinais de rádio deliberadamente
produzidos por civilizações em nossa galáxia, e não é pegadinha de 1º de
abril!
O projeto SETI, em si, foi idealizado na
década de 1960 por Frank Drake que propôs que civilizações avançadas,
tanto quanto a nossa pelo menos, fariam uso de ondas de rádio
cotidianamente. Seja para a transmissão de programas de TV, seja para
comunicações entre colônias espalhadas pela Via Láctea. Quem sabe, até
mesmo usadas também em tentativas de estabelecer comunicação com outras
civilizações.
O projeto SETI já passou por várias fases
e iniciativas, a mais famosa foi quando, diante de uma quantidade
enorme de dados, pediu ajuda para cidadãos comuns os processarem em
casa. No projeto SETI em casa, o interessado pode baixar um pacotão que
inclui o programa de processamento e um bloco de dados obtidos pelas
antenas do projeto. Quando o computador fica ocioso, o programa entra em
funcionamento e passa a processar os dados brutos. Funciona como um
descanso de tela. Se algo suspeito for encontrado, uma mensagem é
automaticamente enviada ao instituto e a partir daí os cientistas
envolvidos fazem uma análise mais cuidadosa do mesmo pacote de dados.
O projeto passou por muitos maus
momentos. Depois de um financiamento inicial das agências de pesquisa
norte americanas, o SETI ficou sem dinheiro. Na década de 1990,
empresários que ficaram bilionários com empresas de computação e
internet passaram a patrocinar a iniciativa e o projeto ganhou novo
fôlego, com a compra de antenas para formar a sua própria rede,
equipamentos de processamento e a criação de um instituto propriamente
dito. A instituição agora conta com pesquisadores em vários ramos da
ciência, como astronomia, astrofísica, astrobiologia e ainda atua no
campo da educação e divulgação científica, produzindo e distribuindo
material didático.
Com recursos particulares vindo de
empresas como HP, Google e Microsoft, o instituto SETI passou comandar
as iniciativas de busca por sinais de vida inteligente. Sempre que algum
exoplaneta com potencial de abrigar vida é descoberto, o instituto
aponta suas antenas na sua direção para tentar captar algum sinal de
rádio escapando para o espaço. Assim como temos aí mais de 50 anos de
transmissões de televisão escapando para o espaço, mais tempo ainda de
rádio, uma civilização que tenha atingido o mesmo nível de sofisticação
tecnológica também deve estar fazendo o mesmo.
O projeto, nessa concepção, tem grandes
chances de fracasso infelizmente. Além de não haver nenhum sinal
suspeito a ser investigado, é impossível olhar para todas as direções da
galáxia, mesmo que seja ao longo dos anos. Várias décadas seriam
necessárias para completar essa varredura e seria preciso que na hora
exata da observação, o planeta teria que estar emitindo ondas de rádio e
na frequência “certa”, a frequência da escuta aqui na Terra. Por isso
os recursos públicos cessaram.
Mas com recursos particulares e, vez ou
outra, doações de milionários empolgados aliados a uma estratégia
inteligente, as chances ficam mais promissoras.
A nova fase do SETI visa agora observar
20 mil anãs vermelhas próximas do Sol ao longo dos próximos 2 anos. As
anãs vermelhas se constituem na maioria das estrelas do universo, são
menores e mais frias que o Sol. São também mais longevas, o tempo de
vida de uma anã vermelha excede a idade atual do universo, ou seja, a
primeira anã vermelha que surgiu desde o Big Bang ainda está brilhando.
Em 15 bilhões de anos, uma civilização pode começar, se desenvolver até o
nosso patamar tecnológico e sumir do mapa umas 3 vezes, o que melhora
muito as chances de encontrar alguém.
Mesmo com tudo isso a favor, as anãs
vermelhas sempre foram desprezadas em projetos de busca sistemática do
SETI. Em outros tempos, a preferência recaía por estrelas do tipo do Sol
e a mudança de paradigma se deu por causa dos avanços nas pesquisas
decorrentes da enxurrada de dados obtida pelo satélite Kepler,
principalmente. Por exemplo, a zona habitável de uma anã vermelha
(aquela região do espaço ao redor de uma estrela em que a radiação
consegue manter a água em estado líquido) é menor do que a zona
habitável do Sol. Mais próxima da estrela, o planeta sincroniza o seu
movimento de tal modo que sempre vai mostrar a mesma face, deixando um
lado com dia eterno e outro com noite eterna. Até recentemente,
acreditava-se que com essa configuração, o planeta viveria extremos de
temperatura: muito alta na face iluminada e muito baixa na face escura e
isso é péssimo para o desenvolvimento de vida. Só que simulações têm
mostrado que a atmosfera e os oceanos do planeta conseguiriam distribuir
o calor pelo planeta através da circulação de ventos, amenizando a
condições climáticas, principalmente perto da região de transição
claro/escuro.
Segundo as estatísticas obtidas com o
satélite Kepler, é bem possível que 50% das anãs vermelhas possuam pelo
menos um planeta, o que deixa um potencial de 10 mil para serem
“escutados” neste programa. Isso nesta primeira lista, pois o total de
anãs vermelhas próximas catalogadas chega a 70 mil!
Apesar do ceticismo de boa parte da
comunidade astronômica, o projeto deve durar os dois anos planejados com
o SETI usando seu conjunto de 42 antenas de rádio localizadas no estado
da Califórnia. Além desse conjunto, outros radiotelescópios podem se
juntar a essa campanha, como o Arecibo. Mas não tem outro jeito, o
negócio é esperar e torcer!
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